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quinta-feira, 11 de março de 2010

PRECONCEITO LINGÜÍSTICO

O preconceito, qualquer que seja ele, é de um verdadeiro mau gosto. Mas não há, neste mundo, quem não tenha alguma idéia ou atitude preconceituosa. Porém, é uma virtude tentar se afastar o mais longe possível dessa praga, que, em alguns casos, é resultante da manipulação ideológica.

Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), além de tradutor, escritor e lingüista, Marcos Bagno é autor de Preconceito lingüístico - o que é, como se faz (Edições Loyola). Bagno tenta desfazer a idéia preconceituosa de que somente quem fala de acordo com a Norma Culta é que fala a nossa língua.

Bagno afirma que "o preconceito lingüístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogadas nos dicionários (...)".

Logo no primeiro capítulo, ele aponta oito MITOS do preconceito lingüístico, que são:

1. "A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente"
2. "Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português"
3. "Português é muito difícil"
4. "As pessoas sem instrução falam tudo errado"
5. "O lugar onde melhor se fala português é no Maranhão"
6. "O certo é falar assim porque se escreve assim"
7. "É preciso saber gramática para falar e escrever bem"
8. "O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social"

Em seguida, o autor destrincha uma série de equívocos cometidos pelos senhores-gramáticos-da-norma-culta. Faz críticas, principalmente, aos que tratam a Gramática da Língua Portuguesa como se ela fosse o deus maior.

Com bons argumentos, Bagno reforçou as minhas suspeitas quanto ao preconceito lingüístico no Brasil. A vontade que tive, assim que comecei a ler o livro, foi criar um site para tratar somente desse assunto. Como não será possível fazer isso agora, a partir de hoje, alguns dos meus textos serão relacionados ao tema. Uma coisa ou outra. Estarei engajada nessa luta contra a perpetuação de um dos mecanismos de exclusão social.

"É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano lingüístico, atores não-nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum no Brasil, muito menos no Nordeste. Costumo dizer que aquela deve ser a língua do Nordeste de Marte! Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão." (BAGNO, p. 44)

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