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sexta-feira, 15 de abril de 2011



MONÓLOGO DE UM ESTUDANTE


"Não, eu não vou bem na escola. Esse é o meu segundo ano na sétima série e eu sou muito maior que os outros alunos. Entretanto, eles gostam de mim. Não falo muito na aula, mas fora da sala sei ensinar um mundo de coisas. Eles estão sempre me rodeando e isso compensa tudo que acontece na sala de aula.
Eu não sei porque os professores não gostam de mim. Na verdade eles nunca acreditam que a gente sabe alguma coisa, a não ser que se possa dizer o nome do livro onde a gente aprendeu. Tenho em casa alguns livros: dicionários, Atlas, livro de português, matemática, ciências e outros que a professora manda comprar. Mas não costumo sentar e ler todos, como mandam a gente fazer na escola.
Uso meus livros quando quero descobrir alguma coisa. Por exemplo, viajo sempre com meu tio, que é caminhoneiro. Quando ele me convida para fazer entrega no final de semana, vamos logo procurar num mapa rodoviário o caminho para chegar a outra cidade.
Mas, na escola, a gente tem de aprender tudo que está no livro, e eu não consigo guardar. No ano passado, fiquei uma semana tentando aprender os nomes dos imperadores romanos. Claro que conhecia alguns como Nero, César e Calígula. Mas é preciso saber todos juntos e em ordem. E isso eu nunca sei. Também não ligo muito, pois os meninos que estudam os imperadores têm aprender tudo o que eles fizeram. Estou na sétima série pela segunda vez, mas a professora agora não é muita interessada nos imperadores. Ela quer é que a gente aprenda tudo sobre as guerras gregas.
Acho que nunca conseguirei decorar nomes em História.
Este ano, comecei a aprender um pouco sobre caminhões porque meu tio tem três, e disse que posso dirigir um quando fizer dezoito anos. Já sei bastante sobre cavalo-vapor e marchas de cinco marcas diferentes de caminhão, alguns a diesel. É gozado como os motores a diesel funcionam. Comecei a falar sobre eles com a professora de Ciências na quarta-feira passada, quando a bomba que a gente estava usando para obter vácuo esquentou. Mas a professora não via a relação entre um motor a diesel e a nossa experiência sobre a pressão do ar. ]
Fiquei quieto. Mas os colegas pareceram gostar. Levei quatro deles à garagem do meu tio e como ele entende disso...
Eu também não sou forte em Geografia. Neste ano, eles falam em Geografia física. Durante toda a semana estudamos agricultura de roça no mundo tropical, sistemas agrícolas tradicionais, mas não sei bulhufas. Talvez porque faltei á aula, porque meu tio me levou a Ribeirão Preto com uma carga de televisão. Trouxemos de lá um carregamento de açúcar. Meu tio tinha me dito as estradas e as distâncias em quilômetros. Ele só dirigia o caminhão e eu ia lendo as placas com os nomes das cidades onde passávamos. Até Campinas contei um montão de fábricas e daí para frente era só canavial. Mas para que tanta cana em São Paulo?
Paramos duas vezes e dirigimos mais de 600 quilômetros, ida e volta. Estou tentando calcular o óleo e o desgaste do caminhão para ver quanto ganhamos.
Eu costumo contar minhas viagens para meus colegas da escola e eles gostam muito porque há sempre novidades. Gostaria de fazer minhas redações sobre as viagens que faço com meu tio, mas outro dia o tema da redação na escola era: "O que uma rosa leva na primavera". Não deu... Também não dou para Matemática. Parece que não consigo me concentrar nos problemas. Um deles era assim: "Se um poste telefônico com doze metros de comprimento cai atravessado em uma estrada, de modo que um metro e meio sobre um lado e um metro de outro, qual a largura da estrada?" Acho uma bobagem calcular a largura da estrada. Nem tentei responder, pois o problema não dizia se o poste tinha caído reto ou torto. Não vou bem em Educação para o Trabalho. Todos nós fizemos um suporte para pendurar plantas e a única mesa existente está sempre ocupada. Quis fazer uma caixa de ferramentas para o meu tio, mas a
professora não deixou, pois eu teria de trabalhar só em madeira. Acabei fazendo a caixa de ferramentas em casa e meu tio disse que economizou muito com o presente.
Meu pai disse que eu posso sair da escola quando fizer quinze anos. Estou doidinho para isso porque há um mundo de coisas que eu quero aprender a fazer e já estou ficando velho."

Depoimento adaptado de um aluno (transcrito do parecer do CFE nº 2164/78)

ATIVIDADES:
Questão 1: Você sente a mesma coisa em relação aos seus alunos?
Questão 2: Acontece este tipo de insatisfação com seus alunos?
Questão 3: Na sua escola anterior em que trabalhou, muitos alunos deixaram de estudar antes mesmo de concluir o Ensino Fundamental?
Questão 4: E hoje na que você está, isto vem acontecendo? Com que freqüência? Por quê?
Questão 5: A que causa você atribuiria esta fuga da escola?
Questão 6: O que você modificaria na escola? E na sua?
QUESTIONAMENTOS:
I . Como são as aulas de Língua Portuguesa em sua escola?
II . Em sua opinião, o que faltam a estas aulas, a fim de que se tornem boas? Justifique:
III . Você teve alguma surpresa em suas aulas de Língua Portuguesa enquanto professor(a)?
IV. Enumere 5 itens para que as aluas de Língua Portuguesa se tornem prazerosas.

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